Engenheiro mecânico e diretor da Keyassociados
Chega de descaso. Agora, as cidades são obrigadas a dar um destino adequado ao lixo que produzem. Venceu em 2 de agosto o prazo para que os municípios desenvolvam um Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, ou seja, apresentem um projeto mostrando como pretendem acabar com os lixões e aterros sanitários inadequados até 2014. Esse prazo, porém, também se mostra insuficiente para compensar anos de falta de interesse político para o tema. Dificilmente todas as cidades darão fim em seus lixões em dois anos. O Brasil vive uma situação alarmante: cerca de 60% do resíduo sólido não é destinado corretamente. Os lixões são espaços com inúmeros riscos do ponto de vista social, ambiental, econômico e de saúde. Há a possibilidade eminente de contaminação do solo, lençóis freáticos, rios e córregos com o chorume – líquido resultante do apodrecimento da matéria orgânica. Sem falar na presença de catadores, geralmente sem proteção, manuseando o lixo em busca de produtos recicláveis e se expondo ao risco de infecções e outros sérios problemas de saúde. Considerando que os brasileiros gastam aproximadamente R$ 21 bilhões por ano com coleta e destinação dos resíduos, esse cenário não pode mais ser admissível.
As alternativas existem e são várias. Não dá para generalizar a realidade do país inteiro, ainda mais considerando as diferenças sociais existentes no Brasil. Estima-se que na cidade de São Paulo,por exemplo, onde há a maior concentração populacional, sejam geradas 10 mil toneladas de lixo todos os dias. Ou seja: as necessidades da capital paulista diferem muito das de outros municípios, com menos moradores, onde o volume de resíduos por dia é muito inferior. Cuidar dos resíduos é ter aterros sanitários adequados, com tratamento do chorume e cuidado no manuseio dos materiais. Há ainda que destinar corretamente o biogás gerado pela decomposição do lixo, que pode ser vendido como combustível, usado para a produção de energia elétrica ou queimado. A ação pode se reverter na geração de crédito de carbono. Opções como essas devem ser consideradas pelo Plano de Gestão de Resíduos, que também deve incluir alternativas para reduzir o volume de lixo gerado pelo município, a reutilização e a reciclagem dos materiais. Vale lembrar que cerca de 30% do que se joga fora hoje poderia ter novos usos e formas. Porém, só 60% das cidades brasileiras contam com ações de coleta seletiva. A própria população pode integrar essas iniciativas, tornando-se peça-chave na política ambiental do município.
Não se acaba com um lixão da noite para o dia. O exemplo mais recente é o aterro de Gramacho, o maior da América Latina, desativado no mês passado no Rio de Janeiro. Segundo o governo fluminense, a área de 1,3 milhão de metros quadrados e 60 milhões de toneladas de lixo deve levar ao menos 15 anos para se recuperar do período de atividade do lixão. Além disso, todo o resíduo da cidade de Duque de Caxias está sendo levado para um galpão até ser encaminhado ao seu destino final. Se por um lado os números ainda não são os mais satisfatórios, o fato desse tema ter sido colocado em discussão obrigatoriamente – as cidades que não apresentaram o plano de gestão de resíduos não podem receber recursos do governo federal para a limpeza urbana – já pode ser considerado um grande avanço. Ninguém quer ver o lixo. Mas não dá para continuar escondendo-o embaixo do tapete.
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