Dados
do livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território
brasileiro”, obtidos a partir de declarações de bens à Justiça
Eleitoral, mostram que políticos de todas as regiões do país possuem
terras na Amazônia e no Cerrado.
O jornalista Alceu Luís Castilho, autor
do livro, lançamento recente da Editora Contexto, analisou quase 13 mil
declarações de políticos eleitos em 2008 e 2010. No município de São
Félix do Xingu (PA), o segundo maior do país, com o maior rebanho
bovino, os políticos possuem mais de 12 mil hectares.
O Pará é um dos principais destinos dos políticos – inclusive nos municípios do Arco do Desmatamento, no Pará e em Mato Grosso.
O livro expõe a tese de um “sistema político ruralista”, do qual emerge um fenômeno mais conhecido, a famosa bancada ruralista.
De acordo com o livro, entre os
deputados estaduais e federais, senadores e governadores, eleitos em
2010 e 2006, de 548 mil hectares, 88 mil ficam em outros estados que
não aqueles onde eles têm domicílio eleitoral.
Das áreas rurais declaradas pelos
prefeitos, 22,56% também estão em outros estados. São 262 mil mil
hectares, de um total de 1,16 milhão de hectares informados por eles ao
TSE.
Dos 22 prefeitos do Acre eleitos em
2008, 10 são proprietários de terras rurais. Somando os vice-prefeitos,
13 municípios do Acre (59,09%) possuem políticos proprietários de terra
à frente de prefeituras. A porcentagem entre os prefeitos é de 45,45%.
O estado que mais possui “prefeitos e
vice-prefeitos com terra” é o Mato Grosso (com 62,41% entre prefeitos,
78,72% incluindo vice-prefeitos). Em seguida vêm Paraná, Bahia e
Espírito Santo, contando os vice-prefeitos. Em todos estes estados mais
de 70% dos municípios têm o prefeito ou o vice “com terra”.
Contando só os prefeitos a ordem muda:
depois do Mato Grosso vêm Bahia (53,62%), Tocantins (53,24%), Rondônia
(52,73%), Goiás (52,05%), Espírito Santo (51,95%) e Piauí (51,12%). Em
todos estes casos mais da metade dos prefeitos é proprietária de terras
rurais.
A lista dos 31 políticos com mais
hectares, conforme as declarações entregues por eles mesmos à Justiça
Eleitoral, possui um prefeito do Acre: Hilário Melo (PT), de Jordão.
Ele declarou a posse de 17.842 hectares, em 2008, por R$ 42.942,87.
Uma das terras de Melo, de 17.731
hectares, foi declarada por R$ 642,87. A relação R$/hectare dessas
terras é uma das mais baixas das 13 mil declarações analisadas: R$ 2,41
– equivalente ao preço de uma lata de cerveja.
Entre os latifúndios (pelo menos 2 mil
hectares), essa proporção só é maior que a de uma fazenda do senador
mato-grossense Jayme Campos, com relação R$/há de R$ 0,017.
A
obra também enumera crimes ambientais em terras de políticos. Um dos
casos é o do ex-prefeito eleito de Feijó, Juarez Leitão, do PT,
afastado pela Justiça Eleitoral, que já teve obra embargada pelo Ibama,
por desmatamento. Leitão era seringueiro, companheiro do sindicalista
Chico Mendes e chegou a presidir o Conselho Nacional dos Seringueiros.
“Partido da Terra” traz também uma
lista inédita de políticos madeireiros: são mais de 60 nomes. Quatro
são do Pará, um do Amapá, um de Rondônia. Vários já foram acusados –
alguns, até presos – de crimes ambientais.
Um dos capítulos sobre ambiente conta o
caso de Luiz Augusto Ribeiro do Valle. Ele já foi diretor-presidente do
Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre. Teve uma área
embargada pelo Ibama, em 2007, por destruição ou danificação de
florestas.
Outro nome que aparece (sempre no 17º
capítulo do livro, Arco do Desmatamento) é o de Darly Alves da Silva
Filho, por desmatamento em Xapuri.
O livro trata também de crimes contra camponeses, indígenas e trabalhadores, a mando de políticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário