O X do século XXI - 10 minutos com Philip Wollen, ex vice-presidente do Citibank

A verdade que nenhum ambientalista pode deixar de mostrar:
Como a indústria da morte e crueldade dos animais está devastando o planeta, arruinando as espécies, adoecendo e matando de fome a humanidade em proporções gigantescas.

domingo, 20 de maio de 2012

Manifestação contra o comércio de animais no Mercado Central de Belo Horizonte


Problemas relacionados ao comércio animal no interior do Mercado Central de Belo Horizonte

Por Gilson Dias Rodrigues - Médico-Veterinário.
domingo, 13 de Maio de 2012

Se aproxima a data de mais uma manifestação pública contrária ao comércio de animais num dos ambientes mais populares de Belo Horizonte. O que muitos chamam de uma movimento de pessoas desocupadas, ou de ativistas de sem causa, eu chamo de uma questão de saúde pública, uma questão de ética animal, uma questão de tráfico de animais silvestres e até de uma questão de prejuízo ao consumidor.

Um exemplo simples: Filhotes são entregues para a venda. Digamos que sejam cinco filhotes de Dálmatas. Entram para o Mercado Central no dia 01/03 e são colocados na gaiola. Sempre estiveram presos ao ambiente natal, ao lado da mãe, mamando e, repentinamente, estão colocados em gaiolas onde pessoas passam constantemente. Naquelas mesmas gaiolas, estiveram outros animais anteriormente e a desinfecção da gaiola foi feita com cloro diretamente aplicado sobre as grades sem a remoção completa de todas as sujidades presentes. Da ninhada que ficava naquela gaiola, um dos filhotes apresentou uma doença conhecida como Parvovirose. A doença é causada por um vírus super-resistente no ambiente, capaz de permanecer no ambiente, sem o tratamento adequado, por até cinco anos. Em outra gaiola, do lado oposto do corredor, outro filhote, igualmente à venda, apresenta uma coriza muito discreta e eventuais espirros. A cada espirro deste filhote, partículas de outra virose, a cinomose, são espalhadas pelo ar e sobre seus colegas de gaiola e de Mercado Central. O período de incubação médio dessas doenças é de 12 a 18 dias, ou seja, os primeiros sintomas estarão perceptíveis a partir do dia 13/03.
O dono da loja vende cada filhote com uma "garantia" de dois a sete dias de acordo com a sua data de chegada. Suponhamos que D. Maria leve o seu netinho até o Mercado no dia 04/03 e ele pede pra ir ver os cachorrinhos... D. Maria nada nega a seus netos e leva o Joãozinho até lá. Joãozinho quer passar a mão em todos os filhotes que lá estão e, partículas virais presentes no nariz dos filhotes e nos pêlos de todos eles, são disseminadas a cada gaiola. O proprietário da loja pede a D. Maria para não deixar o Joãozinho passar a mão na boca dos filhotes."

Nesse momento, vou interromper nossa "historinha" para destacar dois detalhes. Onde estava Joãozinho antes de ir aos cãezinhos? Será que na sua casa não pode ter um cão doente? Será que no banco do ônibus onde o Joãozinho entrou pra ir passear não poderia ter sentado uma pessoa que tinha um cão doente em casa? O Joãozinho pode ter levado uma doença para esses filhotes, não é mesmo? Outro detalhe: Se o dono da loja não deixa o Joãozinho por a mão na boca dos cães mas deixa que ele ponha a mão nas costas dos cães, quem explica para os cães que eles não podem encostar a boca nas costas e no pescoço uns dos outros? Como este "cuidado" de evitar a boca dos filhotes se justificaria se é normal a brincadeira entre filhotes da mesma gaiola? Seguimos com a história...

Joãozinho se encanta com um filhotinho de Dálmatas igualzinho ao do filme e começa a exigir que D. Maria compre aquele filhotinho pra ele... D. Maria não nega nada ao netinho e compra o Dálmata que passa a se chamar Nick. O filhote, que já estava estressado pela mudança da casa de sua mãe para a gaiola do Mercado Central agora se separa de seus irmãos e vai morar sozinho e outra casa diferente! Mais um motivo para estresse... No dia 13/03, Nick terá sua primeira diarréia. 
Dos quatro outros filhotes que lá ficaram, mais três foram vendidos, rendendo ao dono da loja, um total de 600 reais que precisarão ser divididos para pagar funcionários que mantem a loja limpa, material de limpeza, ração, e mais alguns custos menores. O penúltimo filhote foi vendido no dia 15/03 mas havia ocorrido um vômito ainda na loja e, por isso, o dinheiro da venda dele pode ser requisitado de volta pelo último comprador, que pagou R$150,00. Ou seja, nem dá pra contar com esse recurso financeiro para iniciar o tratamento daquele filhote que ficou sem ser vendido. De fato, as suspeitas de uma doença naquele último filhote se confirmam assim que ele também se sente estressado por ficar sem a companhia de seus quatro irmãos. 

 Mais uma vez eu interrompo o relato para contar aos leitores que, apesar de ser uma história absolutamente fictícia, por inúmeras vezes recebi em meu consultório pacientes oriundos do Mercado Central. Na maioria das vezes, o animal apresentava sinais clínicos de virose que mais tarde se confirmaram sendo de cinomose. Por uma questão sanitária, eu não podia receber internados estes animais, pois, pela facilidade de transmissão da doença especialmente em ambiente de estresse, internar cães com cinomose contaminaria outros pacientes e, sobretudo, o ambiente interno da clínica, bem como os profissionais que precisarem ter contato com as secreções nasais, lacrimais, orais e fecais desses cães. Portanto, nenhuma clínica interna um cão doente de cinomose, exceto se houver um esquema muito específico para este tipo de doença, o que, economicamente, é muito complicado e nunca fica 100% seguro. Em outras palavras, não por falta de empatia com estas vítimas ou com seus responsáveis, eu tive de negar socorro de tratamento intensivo com soro e medicações injetáveis por causa da agressividade da doença. Se autorizadas essas internações, digamos que por um período curto de seis dias, cada uma delas não sairia por menos de 800 reais em nenhuma clínica de Belo Horizonte.

Logo, pergunto àquelas pessoas que compram os animais do Mercado Central: o que vocês acreditam que acontecerá ao último dos cinco irmãos do Nick? E ao Nick, que foi comprado por um capricho e pode chegar em uma casa que não está preparada para recebê-lo? Os pais do Joãozinho vão conseguir dedicar todo o tempo necessário para a recuperação do animal que nem era TÃO bem-vindo assim?

E você que compra outros itens no Mercado Central, como eu mesmo!? Não pode levar pra casa itens que tiveram partículas virais depositadas em sua superfície por causa dos espirros dos filhotinhos ou pelo contato das mãos de pessoas que passaram pelo terrível corredor de exposição dos animais? E as doenças carreadas pelas aves? A perigosa Salmonella sp. muito presente nas fezes dos répteis? Sem falar nos piolhos dos pássaros... E nos fungos, bactérias e outros parasitas trazidos sob as escamas dos peixes comprados e, sem o devido cuidado, introduzidos no seu aquário?

Você gosta de fígado com jiló de tira-gosto para aquela cervejinha gelada? Você gosta de artesanato? Compra embalagens no Mercado Central para revender seus produtos? Você nunca ouviu algum parente distante, vizinho ou amigo comentar que comprou aquele Trinca-ferro com um "cara que tem uma loja no Mercado Central"? Você gosta realmente do Mercado Central por qualquer outro motivo? Então não permita que essa mancha negra, essa névoa, permaneça sobre a reputação do nosso Mercado Central! Não estimule o comércio de animais lá dentro... Não compre filhotes por dó ou por qualquer outro sentimento, pois seu dinheiro vale o mesmo que o de todo mundo e será usado para financiar o sofrimento de outros filhotes e animais.

Não há motivo para pânico por parte dos vendedores de animais, pois eu conheço muita gente, mas muita gente mesmo, que abandonou sua frequência ao Mercado Central porque soube, por mim ou por outros veterinários, da condição a que são submetidos esses seres e, na medida em que o comércio não mais acontecer, haverá um acréscimo no número de frequentadores gradualmente. Logo, mais mercado pra todo mundo. 

Mudanças são difíceis, mas as vidas de nossos animais são ainda mais importantes e o comércio animal já não tem o mesmo brilho aos olhos de uma sociedade cada vez mais consciente.


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