ONU: dos 7 bilhões de habitantes do mundo, 6 bi têm celulares, mas 2,5 bi não têm banheiros
Vivendo em meio ao lixo. Foto: IRIN/Manoocher Deghati
O Vice-Secretário-Geral da ONU, Jan Eliasson, lançou um apelo nesta quinta-feira (21) para reverter a situação do planeta onde há mais celulares do que banheiros, e onde 2,5 bilhões de pessoas não tem saneamento básico. Eliasson pediu para que governos, empresas e organizações internacionais se mobilizem e realizem ações mensuráveis para aumentar rapidamente o acesso ao saneamento básico.
O chamado para a ação, feito na véspera do Dia Mundial da Água, 22 de março, pretende centrar-se em ações que visem melhoria da higiene, mudança das normas sociais, melhor gestão de dejetos humanos e águas residuais, e, até 2025, eliminar completamente a prática da defecação a céu aberto, que perpetua o ciclo vicioso de doença e pobreza enraizada.
Dentre a população mundial, de 7 bilhões de pessoas, 6 bilhões têm telefones celulares. No entanto, apenas 4,5 bilhões têm acesso a banheiros ou latrinas, o que significa que 2,5 bilhões de pessoas, principalmente em áreas rurais, não têm saneamento básico adequado. Além disso, 1,1 bilhão de pessoas ainda defecam a céu aberto.
“Vamos enfrentar este problema que as pessoas não gostam de falar. Mas ele é diretamente ligado à saúde, a um ambiente limpo, à dignidade humana fundamental para bilhões de pessoas e para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Faltam pouco mais de mil dias para chegar até o prazo dos ODM, e temos uma janela única de oportunidade para entregar uma mudança geracional”, disse Eliasson.
Os países onde a defecação a céu aberto é amplamente praticada são os mesmos países com o maior número de mortes de crianças com menos de 5 anos, com altos níveis de subnutrição e de pobreza e com grandes disparidades de riqueza. ”Nós podemos reduzir para um terço os casos de diarreia em crianças menores de cinco anos simplesmente ampliando o acesso das comunidades ao saneamento e eliminando a defecação ao ar livre”, disse o Vice-Diretor Executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Martin Mogwanja. “Na verdade, a diarreia é a segunda maior causa da morte de crianças menores de cinco anos no mundo em desenvolvimento e isso é causado em grande parte pelo saneamento pobre e higiene inadequada.”
PROTEÇÃO NATURAL
Enriquecer cobertura florestal pode manter qualidade da água
Estudo aponta que presença de cobertura florestal e recuperação das florestas já existentes pode contribuir para a manutenção da qualidade de águas superficiais e também para aumentar sua proteção
ukgardenphotos / Creative Commons
A presença de cobertura florestal é essencial para a manutenção da qualidade da água dos corpos d’água em regiões com atividade agrícola e pecuária. Ao mesmo tempo, a recuperação e o enriquecimento das florestas já existentes pode proporcionar uma resposta mais rápida para a proteção das águas superficiais. As constatações são de uma pesquisa da engenheira Carla Cristina Cassiano realizada no LCF - Departamento de Ciências Florestais da Esalq - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz USP, em Piracicaba.
O estudo foi dividido em duas partes. A primeira buscou avaliar as condições da vegetação florestal na área de estudo e o seu potencial na prestação de serviços, e a segunda parte mensurou o efeito desta vegetação em parâmetros físico-químicos da água. "As unidades de estudo foram definidas na bacia do rio Corumbataí (interior de São Paulo), a partir do mapeamento do uso do solo do ano de 2000 pelo método de amostragem adaptativa, onde as unidades deveriam apresentar um mínimo de 70% de matriz e 10% de cobertura florestal", explica Carla. "Foram selecionadas seis unidades de 16 quilômetros quadrados (km2), três unidades com matriz de pasto e três unidades com matriz de cana-de-açúcar".
Com as unidades definidas foram realizados os mapeamentos por fotointerpretação para cinco datas (1962, 1978,1995, 2000 e 2008) e, a partir disso, foi possível calcular as mudanças do uso do solo e índices para os fragmentos florestais que identificaram sua trajetória. "A pesquisa propôs uma metodologia para caracterizar o potencial de proteção dos recursos hídricos pelas florestas a partir da estrutura e dinâmica da paisagem, permitindo a diferenciação da vegetação florestal de acordo com o seu histórico, localização e características do terreno", aponta o professor Silvio Frosini de Barros Ferraz, que orientou a pesquisa.
VEGETAÇÃO FLORESTAL :
Segundo a autora do trabalho, os resultados mostraram que a vegetação florestal na área de estudo tem aumentado nos últimos anos, dando indícios ao inicio de uma fase de regeneração, conhecida como a segunda fase da transição florestal, porém apenas estudos futuros poderão confirmar essa análise. "No entanto, a paisagem apresentou uma baixa cobertura florestal, de aproximadamente 16% da área de estudo, com muitos fragmentos pequenos, geralmente próximos a cursos d’água de primeira ordem. Das florestas existentes, apenas um terço estaria exercendo seu potencial pleno de conservação das águas", conta.
De acordo com o orientador do estudo, quando pensamos em aumentar a proteção dos recursos hídricos pela vegetação florestal é interessante se atentar para a recuperação dos fragmentos florestais já presentes na paisagem. "Muitas vezes é dada uma importância maior ao plantio de novas áreas, do que ao enriquecimento das já existentes. Plantios novos levarão mais tempo para se estabelecer e se desenvolver enquanto a recuperação dos fragmentos poderá apresentar uma resposta mais rápida para o aumento e a permanência dessa vegetação florestal na paisagem e consequentemente para oferta de serviços ecossistêmicos", conclui Ferraz.
A conversão de florestas em usos antrópicos tende a reduzir a qualidade da água, devido ao aporte de nutrientes e sedimentos provenientes da movimentação e manejo do solo. "As florestas se apresentam como a melhor cobertura do solo para a manutenção da qualidade natural das águas superficiais, proporcionando serviços ecossistêmicos de regulação e provisão desse recurso", aponta Carla. Em contrapartida, segundo a pesquisadora, "a presença de vegetação florestal na área ripária pode reduzir esses efeitos, através da prestação de alguns serviços de proteção dos corpos d’água".
Com o objetivo de detectar a influência da mata ciliar na composição físico-química da água em microbacias agrícolas, a engenheira florestal desenvolveu, no programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq um trabalho de avaliação da cobertura florestal sua relação com os recursos hídricos. A proposta está inserida no projeto "Avaliação multi-escala de impactos ambientais em paisagem fragmentada agrícola" coordenado pela professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, do LCF, que busca avaliar os impactos na fauna, na flora e na água resultantes da ocupação e uso do solo na área rural. O professor Silvio Frosini de Barros Ferraz, também do LCF, orientou a pesquisa, que teve apoio da Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
EXTINÇÃO
Uma em cada cinco espécies de répteis pode sumir
Estudo da Sociedade Zoológica de Londres indica que 19% das espécies de répteis do mundo correm risco de extinção
Durante milênios, os répteis conseguiram viver sossegados nos mais variados habitats terrestres e marinhos do planeta. Não mais. Atualmente, uma em cada cinco espécies de répteis está ameaçada de extinção, segundo um levantamento inédito divulgado hoje pela ZSL - Sociedade Zoológica de Londres -, juntamente com a IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza.
O estudo, publicado na revista Biological Conservation, é o primeiro de seu tipo a apresentar o estado de conservação de répteis em todo o mundo. Mais de 200 especialistas avaliaram o risco de extinção de 1.500 espécies de répteis, selecionados de forma aleatória.
Segundo a análise, 19% dos répteis do mundo correm risco de extinção, como o lagarto de nariz saliente - Lyriocephalus scutatus -, da foto. Destas, 12% foram classificadas como espécies “criticamente ameaçadas”, enquanto 41% estão em “perigo” e outros 47% “vulneráveis”. O nível de ameaça permanece particularmente elevado nos trópicos, por causa da conversão do habitat para a agricultura e exploração madeireira.
Outra revelação preocupante é de que o risco de extinção não está igualmente repartido no universo das espécies. Conforme o estudo, 30% do conjunto dos animais de água doce estão próximos da extinção. As tartarugas de água doce, por exemplo, correm um perigo especialmente elevado (50%), refletindo as altas ameaças que a biodiversidade marinha de água doce enfrenta como um todo.
Foto: Divulgação / IUCN